LA JEUNE SIBYLE

February 6, 2015

Immuable au milieu de ce monde fugace,
Immobile à jamais dans un mouvant décor,
Le Temps coule sur moi sans m’infliger de trace
Et, dans mille et mille ans, je serai jeune encor!

Et cependant mon coeur est vieux comme le monde,
J’ai souffert tant de maux, connu tant d’horizons…
Dans l’abîme éternel que mon oeil pensif sonde,
J’ai vu tomber les jours, les mois et les saisons…

Je viens à vous, tremblante, ô mes graves aînées,
Et qui sont le savoir, la force et la doucer.
Et vous, sous le couvert de vos longues annèes,
Accueillez votre fille et votre jeune coeur!

ODE

November 12, 2014

Já quasi morria
C’os olhos nos da
amada.
E ela que se sentia
Não menos abrasada:
_ “Ai, caro Atfes ! _
dizia _
não morras ainda
espera
Que eu contigo
morrer também
quisera”
A ansia com que
acabava
A vida, Atfes, refreia,
E, enquanto a
dilatava,
Morte maior o
anseia.
Os olhos não tirava
Dos do ídolo querido,
nos quais bebia o
Néctar diluído.
Quando a gentil
Pastora,
Sentindo já chegada
Do doce gôsto a
hora,
Com a vista pertubada
Disse tremendo:_
” Agora
Morre, que eu
morro amor”
_ “E eu_ disses ele_
contigo”
Viram-se desta sorte
Os dois finos
amantes
Mortos ambos de um
tal corte;
E os golpes
penetrantes
Desta casta de morte
Tanto lhe agradaram,
Que, para mais
morrer,
recusscitaram.

JOSÉ ANASTÁCIO DA CUNHA (1744-1787)

Um poema de 250 anos que fazia a apologia da liberdade da mulher
contra todos os preconceitos, restrições e tabus da época.

Túnel do tempo

October 28, 2014

Apenas uma folha ao vento,
no túnel do tempo, solta,
a vida é apenas um momento
entre alegrias e tristezas
de quem nas vitórias perdeu
o sentido maior de crescer.
Passageiro de seu destino,
segue só, ao sabor de viver
sem um rumo seu e verdadeiro,
escravo de um futuro incerto,
vivendo a vida no presente
e olhando o tempo que passou.
Caminha para o nada e o escuro,
mas quem sabe sejam as trevas
a luz dessa vida que nos leva
desse mundo tão cheio de misérias.

Amante

October 28, 2014

No silêncio frio da noite mansa,
mansamente,veio deitar ao meu lado,
aninhando-se a mim como a criança
que procura abrigo a seus temores.
Ao sentir seu calor,busquei tocá-la
aspirando seu perfume, mas calado
esperei de olhos fechados o hálito morno
de sua boca a me beijar o corpo.
Sua mão ávida deslizou em meu peito
a brincar distraída com meus pelos.

Logo, correu suave pelo meu ventre
palmilhando cada centímetro de pele.
Meus dedos correram em seus cabelos
e como um cego procurei seu entorno
tocando,subindo e descendo planícies
buscando nervosos morros e cavernas.
Loucamente, cavalgou minha cintura
e senti seus movimentos nervosos,
em quase delírio por tê-la tão perto.
Mas,no clímax do desejo abri meus olhos
a tempo de vê-la perder-se no vazio escuro

ESPIRAIS DO TEMPO

June 10, 2014

EM GRANDES VÔOS ESPIRAIS

PROCUREI NOS ESPAÇOS

DESCOBRIR MEU FUTURO,

MAS  OS PONTOS CARDIAIS

ME CONDUZIAM, AOS PEDAÇOS,

A LUGARES SEM NADA, OBSCUROS.

DESILUDIDO, CORTEI AS ASAS

E AFUNDEI NO MAR OPACO

QUE ESCONDIA  O PASSADO.

PARA COMPREENDÊ-LO, FUI  FUNDO,

POUCO A POUCO, EM REGRESSÃO.

HAVIA UMA CRIANÇA QUE NÃO PODIA

ENTENDER, NEM ACEITAR A MORTE.

SUFOCADO, BUSQUEI A TONA

NADANDO ATRAVÉS DO TEMPO

QUE ESSE MAR REVOLTO ESCONDIA.

VI UM JOVEM ATORMENTADO

QUE DESENHAVA E ESCREVIA.

SORRI E ACENEI, MAS NÃO SORRIA

E SEM ME DIRIGIR UM OLHAR 

DESAPARECEU NA DENSA BRUMA.

CONTINUEI SUBINDO E VI O HOMEM

QUE  AMAVA, MAS NÃO COMPREENDIA

O AMOR E, POR ISSO, SOFRIA.

DEIXEI-ME ENTÃO FICAR SUBMERSO

SEM MAIS CORAGEM DE OLHAR

E,  UMA VEZ MAIS FUGI, SEM RESPOSTAS.

Vozes do Passado, no fim do tunel

May 28, 2014

Victormotta's Blog

ACORDEI, E ME PERCEBI MAIS VELHO,

E ERA NATURAL, SENDO MEU ANIVERSÁRIO.

PORÉM, AO ME OLHAR NO ESPELHO

NOTEI O FATO EXTRAORDINÁRIO;

EU ESTAVA MUITO MAIS VELHO AINDA,

TALVEZ MUITO MAIS DO QUE DEVERIA,

PORQUE NO ESPELHO EU REFLETIA

A IMAGEM TRISTE E CANSADA

SEM O MESMO VIÇO ANTIGO.

NA SURPRESA, AFASTEI A CORTINA

QUE ME SEPARAVA DO PASSADO.

POUCO A POUCO NOTEI ANTIGOS ROSTOS,

QUE VINHAM BELOS A SORRIR SAUDADES,

MAS QUE SORRINDO SE TRANSFORMAVAM

EM NUVENS DENSAS DE POEIRA CINZA.

 DE VULTOS VELHOS E CURVADOS.

O ANDAR TRÔPEGO SE ARRASTANDO

NA NÉVOA ESCURA DO CAMINHO,

NÃO ME PERMITIA IDENTIFICAR.

EM MEU ESPANTO, VI SURGIR AO FUNDO

OUTRA FIGURA ENTRE AS SOMBRAS, 

QUE REFLETIDA EM MIM.  ERA EU,

CADA VEZ MAIS VELHO, MAIS TRISTE,

CADA VEZ MAIS SÓ, SEM SORRIR,

SEM ESPERANÇAS, SEM NINGUÉM.

MAS A SOLIDÃO NÃO ME MAGOAVA,

APENAS REFLETIA O  PASSAR DO TEMPO,

QUE CORRIA E ZUMBIA…

View original post 29 more words

BARRACO, (minha casa?)

May 26, 2014

O GOVERNO ANUNCIOU!
VÃO TROCAR SEU BARRACÃO,
POR UMA CASA DE VERDADE,
COM JANELAS, PORTA,TEM FOGÃO.

CASA PINTADA, DE TELHADO
SEM GOTEIRAS, COMO AQUELA,
LÁ NO MORRO.

COITADO!
JÁ NEM PODE MAIS DORMIR,
SÓ PENSANDO NESSE DIA.

ELE VAI SER PROPRIETÁRIO.

COMO LHE FAZ BEM OUVIR
ESTE NOME DE MAGIA.

PROPRIETÁRIO, PROPRIETÁRIO!

VÃO TROCAR SEU BARRACÃO.

BEM, É O QUE DIZ
O SEMANÁRIO

MAS, DOUTOR,
SERÁ QUE VÃO?

Esperança do povo, ontem, hoje amanhã

May 26, 2014

LÁ SE VAI MEU POVO,

TRISTE.

LÁ SE VAI ESPERANDO,

DE NOVO

PENSANDO

QUE EXISTE

ESPERANÇA.

 

QUE O DINHEIRO

VAI DAR

O MÊS INTEIRO

P’ RA GASTAR

E SOBRAR

P’RA POUPANÇA.

COITADOS!

MINHA GENTE 

É CRIANÇA

QUE DE REPENTE,

P’RA SE CONFORMAR,

ACREDITA NOS SONHOS.

 

MAS, A VERDADE APARECE

CONTIDA

NA TRISTE ILUSÃO.

 

O REAL  DEPOIS PERMANECE

P’ RA GENTE PENSAR.

POIS,

ENTÃO?

 

SÓ O POBRE

SOCORRE 

OUTRO POBRE.

E O RICO

SÓ MORRE

MAIS RICO.

No meio da estrada, há séculos…

May 26, 2014

NO MEIO DA ESTRADA,
PARADO,
OLHO À FRENTE;
O DESCONHECIDO,
OLHO ATRÁS;
O NADA.
TUDO É NEBULOSO
EM FIGURAS DISPERSAS.
A DÉCADA PERFEITA.
DOS ANOS DOURADOS,
PERDIDA.
PROCUREI NOS TEUS OLHOS
MINHA PRÓPRIA CERTEZA
ESQUECIDA
EM ALGUMA ESQUINA DE NÓS.
E, NO PASSAR DO TEMPO
AO NOS VERMOS
JÁ NÃO SEREMOS OS MESMOS
AMANTES DE OUTRORA,
ENCANTADOS,
ENCANTADORES,
MAS SOMBRAS DE UM PASSADO
VARRIDO DA MEMÓRIA,
MAS PRESENTE NOS CORPOS.

CÍRCULOS VICIOSOS,em alguma época

May 26, 2014

EU LIA, MAS NÃO SABIA LER,
E TUDO QUE EU LIA,
PORQUE NÃO SABIA,
NÃO FAZIA SENTIDO
DENTRO DE MIM.
PROCUREI A PONTA CONDUTORA,
QUAL UM FILÃO
DO ENTENDIMENTO.
NADA!
BUSQUEI FANTASMAS
EM CADA NEGATIVA.
VI MORTOS-VIVOS,
DE PASSADOS TÃO PRESENTES
E MERGULHEI NO FUNDO,
MAIS ÍNTIMO,
EM UM REFLEXO DE TERNURA.
VI, NA MINHA IMAGEM
UM ENORME VAZIO
QUE TRANSFORMOU MEU SONHO
NA DUREZA FRIA
DA REALIDADE.
SERIA MALDADE,
OU O DESEJO DE UM FORTALECIMENTO?
E, AFINAL , EU VI,
MAS NÃO SABIA VER.
E TUDO QUE EU VIA,
PORQUE NÃO SABIA
NÃO IMPRESSIONAVA
O NEGATIVO DE MINHA ALMA.
E, ASSIM, CAMINHEI PASSOS
SEM SABER,
E, PORQUE NÃO SABIA CAMINHAR
MEUS PASSOS A NADA ME CONDUZIAM.
E, AINDA SEM SABER,
RETORNEI AO PONTO DE PARTIDA,
SEM MAIS ESPERANÇAS.

O giro do tempo, 2014

March 18, 2014

Pedaços de mim que flutuam no tempo

são pássaros sem rumo e sem pouso

a buscar seus ninhos no céu da memória.

Nas voltas que esse tempo dá, buscam

encontrar aquilo que foi e  já não é,

mesmo sabendo que nada mais será

igual ao que era e nunca voltará

a ser o que passou por nossas vidas,

pois não é o tempo que nos para,

somos nós que paramos no tempo.

Desse giro implacável e sem volta

brota a angústia do tempo perdido

em vãs tentativas de reencontros.

São histórias passadas de risos e vozes

que marcaram íntimas relações

que trazem ao presente o ontem,

amado ou sofrido,de toda uma vida.

Persegue-se então,o sonho impossível

que termina no mesmo instante

que percebemos o vazio do tempo.

O vento do tempo,2014

February 18, 2014

No delírio da irrealidade,

acordei consciente

que o tempo correu,

mas ficou no passado,

que hoje é presente.

Sem qualquer maldade,

mostrou o que fui

e já não sou.

Passou apressado

com o vento dos anos

e com ele carregou

os sonhos de antigamente.

No sopro do agora

deixou o medo de viver

nesse passado que ficou,

perdido em muitos lugares,

com diferentes nomes,

em rostos invulgares.

Deixou mágoas, esperanças,

sombras, risos e choros.

Soprou nas praias e campinas,

passou  montanhas e mares

com derrotas e vitórias.

Percorreu todos os caminhos

do tempo das crianças.

dos homens e mulheres

que se encontraram

e se perderam

nesse mesmo vento

que carregou o tempo

dos momentos vividos

e não realizados.

Despedida n° 2, 1971

November 2, 2012

Ao dizer, te amo

não estarei mentindo,

mas partindo,

pois, quanto mais te quero,

mais longe eu me sinto.

E, creia que não minto

te amo.

Estarei te amando

quando dizer

adeus.

e meus olhos

molhados

te dirão – querida.

Saberás então

que tentei cruzar

o abismo, mas caí.

Caí no vazio

da solidão,

desse passado,

dessa angustia

de saber que somos dois

e jamais seremos um.

Adeus amor,

ilusões,

felicidade.

Corra para o vento

de sua idade,

seu mundo.

Viva a vida plena,

sem preconceitos,

sem a não compreensão

de outras épocas

que represento.

Seja você

e não eu

Adeus….te amo!

Viver para nada, 2011

October 5, 2011

No declínio da existência,

finalmente me reconheço

e essa descoberta me atinge,

com a força das palavras

duras, mas verdadeiras,

que saltaram do coração triste

e ferido de meu filho.

Em pânico e sem defesa

percorri os caminhos já vividos

e cai sem forças na certeza

da construção de um nada.

Restou-me a solidão da tristeza

com a constatação de fracassos;

fracassos como filho, como irmão,

fracassos, enfim, como pai e

companheiro ausente, esquecido

nos porões do passado.

Na rigidez dos princípios aprendidos

e, rigorosamente transmitidos,

não soube compartilhar emoções,

não soube compreender nem

permitir a compreensão de todos.

Fui somente o seguidor cego de valores,

como se fossem a expressão da verdade.

Mas a verdade, era apenas um nada,

que apenas representei insensível

durante toda a minha vida.

O tempo que ainda me resta,

não será por certo suficiente

para apagar todo o mal

e merecer um perdão.

Dói-me saber que o amor

ficou mesclado na dificuldade

de uma convivência plena.

Quando se descobre nas palavras

de um filho, muito querido,

a impossibilidade dessa convivência,

sofre-se o impacto violento da verdade,

como um tiro certeiro e mortal

disparado do fundo da alma.

Nada mais poderá se feito

para apagar o que  se fez.

Resta-me agora, tentar um recomeço

e a solidão com a dor do fracasso

de toda uma vida.

(03/10/2011, 3h da madrugada)

 

 

LEMBRANÇAS

May 19, 2011

LEBRANÇAS SÃO CRIANÇAS, SÃO MOMENTOS,

SÃO PRAÇAS, RUAS, BRINCADEIRAS.

SÃO NOMES, ROSTOS, PESSOAS;

SÃO ENCONTROS E DESENCONTROS.

SÃO RISOS, ALEGRIAS, SÃO DORES.

UM FORTE PERFUME DE JASMIM

DA CASA VIZINHA DE GRADES VERDES,

QUE FICOU MARCADO PARA SEMPRE.

SÃO GATOS, CACHORROS, SÃO CAVALOS.

SÃO SUBIDAS EM MUITAS ÁRVORES,

SÃO MANGAS, ABACAXIS, SÃO LARANJAS.

SÃO A PRIMEIRA ESCOLA, A PROFESSORA.

SÃO LEMBRANÇAS, SÃO DESCOBERTAS,

SÃO O AMOR QUE NASCEU MEDROSO.

SÃO UM PRIMEIRO BEIJO, ROUBADO.

SÃO AS VITÓRIAS, SÃO DERROTAS;

CONQUISTAS E FRUSTAÇÕES, SÃO MEDOS.

LEMBRANÇAS SÃO O PRIMEIRO SEXO,

SEM GRAÇA, DESAJEITADO  E RÁPIDO.

SÃO  AS DESCOBERTAS A DOIS,

SÃO GANHOS, SÃO PERDAS.

SÃO OS SONHOS E OS PESADELOS.

SÃO A VIDA, SÃO A MORTE,

SAUDADES DOS QUE FORAM.

SÃO GOSTOS, MÚSICAS E ODORES.

SÃO CAMINHOS E DESCAMINHOS,

SÃO GRITOS E SÃO SILÊNCIOS.

SÃO O TUDO, SÃO O NADA.

SÃO INÍCIO SEM O FIM.

Enganos (um ano qualquer, um tempo qualquer…)

April 24, 2011

Mergulhei no passado tentando

compreender o presente de uma vida

e descobrir em tantos enganos

a verdade escondida nas mentiras.

Em que dobra do tempo vivido

ela ficou perdida; oculta nas sombras,

tantas vezes negada ou transformada.

O tempo partilhado com o nada.

O prazer sofrido, sem o gozo

do ideal imaginado; perdido.

A mudança rápida de amores,

deixou a mágoa do vazio;

e, por não ser o amor verdade,

fiquei sozinho, sem compreender

o destino cruel que nos leva

a viver tudo  o que não é.

SAUDADE, poema escrito por um comandante da UNITA, em Cuango Cubango, em 1980, durante a guerra civil em Angola (como foi escrito).

December 10, 2010

         I   

Palavra que diz o passado que queremos

Que queremos porque passou

Passou ontem passou agora passou aqui

Porque passou mas ficou a saudade

II

Escravos passaram lá pasaram aqui

Passaram da Catumbela, Luena, Zambeze passado

Passando lá onde ninguém passou então

Passaram os pombeiros

Pombeiros que não são senão os fumbeiros

Fumbeiros que hoje canto

Canto porque também sou pombeiro

III

No ar ficou a história

Na terra a mentira que é história

Pombeiro é hoje ladrão

Ficou fumbeiro sem história

Morreu e não morreu

Morte ficou com inimigo

Morre a morte dele

Morreram só os que não morreram

Mesmo o inimigo sabe que há fumbeiros

IV

Saltavam a saudade

Esqueceram-se da saudade que queremos

Que queremos o que passou

Passou o que ficou a saudade

V

Colonialismo passou

Passou quem ainda é saudade

Da escravatura e do ser combatente

Saudade é para não esquecer

VI

No ar ficou a história

História nossa que o mundo sabe

Sabe e não ousa dizer a história

História do Pombeiro

Que é o Fumbeiro a saudade

VII

Não há adeus ao fumbeiro

Nem aos finados a honra

Nunca ninguém foi pombeiro

Nesta hora do pombeiro

Que é hoje fumbeiro

VIII

Na hora da UNITA pioneira

No luar a História

Na morte a certeza

Veremos a saudade.

BRANCO OU COLORADO, JCBraun

November 26, 2010

São dois emblemas, dois guascas,

um Branco, outro Colorado.

Relíquias, que no passado,

voejaram com altivez,

levando, mais de uma vez,

da campanha ao litoral

a gauchada bagual,

que de lança e boleadeira

incendiou serra e fronteira

atropelando um ideal!

Estandartes do Rio Grande

eternamente rivais,

que o sangue de nossos pais

tornou mil vezes sagrados

na peleia entreverados

com denodo e galhardia,

fortalecendo esta cria

que foi padrão de coragem

abarbatada e selvagem,

mas cheia de fidalguia!

Um, tem a cor dos brasedos,

dos fogões de acampamento,

e quando tremula o vento,

nas coxilhas desfraldados,

é o sangue bem colorado

da raça em enfervescência,

levando na sua essência

aquele pendão eterno

que foi tronqueira de cerne

na formação da querência!

Outro, é branco como a geada

das alvoradas pampeanas,

e nas dobras soberanas

revela, quando esvoaça,

toda a nobreza da raça

que no voejar se retrata,

parecendo que relata

coragem e desassombro

quando num trono dum ombro

estendido se desata!

Velho lenço Colorado

tu carregas no teu pano

todo o valor haragano

dos cavaleiros charruas.

E acordas  quando flutuas

por essa várzeas assim,

o eco de algum clarim,

que ressurgindo da campa

anda volteando no pampa

o guasca que está no fim!

E tu, velho lenço Branco

como a alma da chinocas.

Tu, que meu sangue provocas

quando te vejo esvoaçar,

comigo hei de te levar

sempre alegre e satisfeito,

atado do mesmo jeito,

seja na paz ou na  guerra

como emblema desta terra

batendo sobre o meu peito!

É tradição do gaúcho

ter amor nesses dois trapos

 e ver na trança dos fiapos

um simbolismo tão santo.

Por isso te adoro tanto

 meu lenço Branco ou de cor

e até Deus Nosso Senhor

que usou bota , espora e mango

lhes garanto que é chimango

se maragato não for!

VAQUEANO, Jayme Caetano Braun

November 26, 2010

Nascido em  catre de lua,

na madrugada campeira,

quando o clarão da boleira

queimava a noite charrua.

Na deusa pampa chirua,

filha de sol e minuano.

mamei até o sobreano,

sem nunca molhar os cueiros.

Lá- onde os pajés missioneiros

me batizaram: Vaqueano.

Na marca da identidade,

carrego  a estampa de todos;

andejos e rapsodos,

criados na imensidade.

O vício da liberdade

adquiri no infinito,

desde que o Tupã bendito

num gesto paterno e largo,

me deu o sagrado encargo

de fazer mapa – solito.

Hoje – a guitarra das fontes

já não traz bordoneios,

morreram os pastoreios,

as potreadas e os repontes.

Não vejo – nos horizontes,

o sol procurando ninho.

Fiquei no tempo – sozinho,

prisioneiro da paisagem,

e após  a última viagem

me transformei em caminho!

Vaqueano! Onde estás vaqueano?

Há um eco que me  interroga.

A evolução pôs a soga

o meu destino haragano,

morre o último pampeano.

Mas eu – vaqueano- não morro,

o meu pingo – o meu cachorro 

há muito foram proscritos

mas guardo n´alma infinitos

que tempo a dentro percorro!!!

ILUSÕES, 2010

November 23, 2010

NO SILÊNCIO DA NOITE, SONHO;

FACES,FATOS,CENAS, MOMENTOS.

UM LEMBRAR DISTANTE, PRESENTE,

AINDA,

ME CONDUZ, TRISTONHO.

RECRIO FELICIDADES E HISTÓRIAS,

NO INUSITADO DA IMAGINAÇÃO.

BUSCO EM CANTOS DE SAUDADES,

TRAZER AO COTIDIANO SOLITÁRIO

 DE AGORA

AS ALEGRIAS VIVIDAS A DOIS .

O QUE ERA, PERDEU-SE,

PARTIDO,

PEDAÇOS DE  CRISTAIS.

O QUE FOI, SÃO SENSAÇÕES,

NADA MAIS.

OS CAMINHOS AGORA PERCORRIDOS,

NÃO SERÃO OS MESMOS DE OUTRORA,

JAMAIS.

RESTA-ME REVIVER NO IMAGINÁRIO

AS FORTES E DOCES EMOÇÕES

DO PASSADO,

NUM CANTO QUALQUER,

NUMA DOBRA ESCONDIDA

DA MEMÓRIA.

REAL MARAVILHOSO 2010

November 12, 2010

Nossa vida flutuando em dois espaços,
um real – outro fantástico imaginário,
e nesse encontro do real maravilhoso
ficamos presos, partidos aos pedaços
estando em um, desejando o outro.
Vivemos então o momento majestoso,
onde tudo é possível na fantasia criada,
e no equilíbrio dessa realidade virtual,
encontramos a felicidade imaginada
para amenizar a solidão do ser
esmagado na realidade do viver
buscando no fantástico irreal
as ilusões passadas e perdidas.

ORFÃO DE MÃE PRETA ( Jayme C. Braun)

November 8, 2010

Patrão – é o negro Venâncio
que pede vossa licença,
pra vos dizê que a Vicença
morreu de parto, Patrão.
E ao ir pra baixo do chão
não tinha nada de seu.
Só deixou quando morreu,
este negrinho chorão,
neto da negra Donata
escrava de vosso avô.
A negra que amamentou
vocês tudo, Patrãozinho.
Por isso eu trouxe o negrinho
afim que você o ajeite,
pos mas do que roupa e leite
ele percisa carinho.
A Vicença – miseráve,
morreu sem le botá nome
e aqui está – roxo de fome
o pobre entinho bendito,
sem força nem pra dá um grito
e os óinho cheio d´água
refretindo a triste mágoa
de tê ficado solito.

Me alembrei que a Patroinha
há pouco ganhô famia.
Patrão – quem sabe ela cria.
como paga de um favor
esse entinho sofredô,
pialado da sorte ingrata,
pois é neto da Donata,
que foi vossa mãe de cô.
Não fique bravo – patrão,
nem tome por desaforo,
mas óie – que ouvindo o choro
dessee negrinho mijado
o indio mais calejado
trem vontade de sê bão
e chega pedir perdão
de tudo quanto é pecado.

Adescurpe – meu Patrão
eu sinto o que você sente
contemprando esse vivente
que as lágrirmas nos arranca
mas vai vê que o choro estanca.
E o negrinho da Vicença
nem vai achá diferença
entre mãe preta e mãe branca.

Já vô simbora Patrão nosso
Sinhô o abençoe
e ao mesmo tempo perdoe
àqueles que tudo tendo
passam a vida não vendo,
cegados pela luxúria
a miséria e a penúria
dos que já nascem sofrendo

Jayme Caetano Braun

November 8, 2010

Poeta gaúcho, lídimo representante das tradições campeiras riograndenses, merece ser mais conhecido pelas gentes estranhas à história, aos hábitos e ao linguajar dos pampas. É com imensa satisfação que transcrevo algumas de seus poemas.

Acampamento Farrapo

Bandeira de trinta e cinco,
divino pendão de guerra,
que guardas gritos de terra,
entre as dobras andarilhas.
Pano de altar das coxilhas,
desfraldado por condores.
Prece rezada em três cores,
em sobre-humanos rituais:
O VERDE – os campos gerais,
do RIO GRANDE despenteado;
o matambre AMARELADO,
uma alvorada de outubro,
e o campo VERMELHO rubro,
um sol de tarde sangrado.
Troféu mil vezes sagrado,
Pátria encarnada num pano,
pedaço de chão pampeano
que a história guasca eterniza,
foste a primeira divisa
do Brasil Republicano.

Bandeira tu ressuscitas,
na glória de cada fiapo
o acampamento Farrapo
embaçado de fumaça.
É o formigueiro da raça
que está reunido em concílio.
É o bugre que – do lombilho,
vem levantando aos bocejos;
são os mestiços andejos,
mal-encarados e sérios;
são castilhanos gaudérios,
vaqueanos de montoneras,
que bandearam as fronteiras
por força de algum instinto;
é o negro chucro, retinto,
dos grilhões recém-liberto;
é o piá voluntário, esperto,
guri ainda – rosto liso;
é o chiru velho preciso,
que pensa mais do que fala;
é o estancieiro de pala,
que chimarreia sisudo;
é o mulato façanhudo,
de adaga grande à cintura;
é a impressionante figura
do charrua de melenas;
é o soldado de chilenas
e o uniforme desbotado;
é o lenço bem colorado
num pecoço de Oriental;
é a Tricolor oficial
num tope republicano;
é o carreteiro vaqueano
que segue o rastro das tropas.
São abas largas e copas,
vinchas, quepes e chapéus,
laços, apêros, sovéus,
num mar de pílchas gaúchas,
boleadeiras e garruchas,
ponchos, palas multicores,
manejavam com primores
nas arrancadas sem conta.
Que culto estranho,
que pampeano rito,
vivem tais vultos que divergem tanto.
É a liberdade que fundiu num grito
todas as vozes do Rio Grande santo.

Dentro de mim,2010

September 2, 2010

ÁGUAS AZUIS QUE INSPIRAM
SORRISOS, BRILHOS,SENSAÇÕES.
BRISA MORNA, CARÍCIAS, DESEJOS;
UM MERGULHO, ENCONTRO, EXTASE.
CORPOS QUE SE UNEM ,
LÁBIOS QUE SE TOCAM,
SUAVES, TERNOS, QUENTES, MANSOS.
VIBRAÇÕES INTENSAS, ESPASMOS, GOZOS.
MENTES SERENAS, RELAXADAS, ENTREGUES.
SÃO CURAS DE MÁGOAS PASSADAS,
SÃO DELÍRIOS, SÃO REMANSOS,
SÃO RECATOS, EXPLOSÕES,
SÃO DORES, SOMOS NÓS.

Respostas, 1972

July 16, 2010

POR QUE BUSCAR A LUCIDEZ
FRIA E LINEAR DO RACIOCÍNIO PURO?
HAVERÁ LUCIDEZ NA BRISA QUE SOPRA
E CASTIGA MEU CORPO CANSADO?
E, POR QUE FOSTE, ASSIM COMO A BRISA,
ME FUSTIGAR, MORNA E TERNA,
A ESPERANÇA DE MEUS SONHOS?
POR QUE SER LÚCIDO SE A LUCIDEZ
ESTÁ EM TUDO QUE NOS CERCA?
NO VENTO,NAS ÁRVORES, NO SOL
QUE DESCE AGORA ATRÁS DA LINHA
DO HORIZONTE QUE NOS SEPARA.
QUERO FICAR ASSIM, EMBRIAGADO
NA SENSAÇÃO DE ESTAR CONTIGO,
NOS CAMINHOS QUE NUNCA PERCORRI.
OLHAR COM TEUS OLHOS E VER DENTRO
DOS MEUS AS MESMAS PAISAGENS
QUE JAMAIS NOTEI OU SENTI.
PERCORRER COM TEUS SENTIDOS
TODA A CERTEZA DA FELICIDADE.
PELA PRIMEIRA VEZ ME RECONHEÇO
TRANQUILO, A OLHAR EM FRENTE
O CAMINHO ABERTO PARA A VIDA.
TODOS OS FANTASMAS QUE CRIEI
E ME ATORMENTAVAM NAS SOMBRAS
NÃO MAIS HABITAM MEUS CASTELOS.
COMO TE DIZER TUDO ISSO?
COMO TE CONDUZIR PELA MÃO
E POR TI SER CONDUZIDO?
COMO REACENDER DAS CINZAS
TUDO O QUE DEIXEI APAGAR?
NESSA BUSCA, AGORA EU SEI,
QUE SÓ EM TI ESTÁ MINHA RESPOSTA.

DIA DA CRIANÇA 1965

June 30, 2010

LUZES NAS RUAS, RISOS, CORES,
BRILHO DAS VITRINES EM FESTA.
UM CARRO, VESTIDO NOVO, UM TREM.
GENTE QUE PASSA E NÃO PRESTA
ATENÇÃO NOS QUE FICAM À MARGEM
DO ENCANTO DAS LUZES,
NO ESPANTO DO MENINO
QUE ERRA SOZINHO,
PERDIDO NA CIDADE.
QUE FERE, MALTRATA
E DESTROI COM MALDADE
OS SONHOS DE CRIANÇA.
QUE ROUBA NO BERÇO
O CARINHO DA MÃE,
QUE CEDO LEVANTA
E TANTO TRABALHA,
ESCRAVA SUBMISSA
DO ASFALTO,
ALHEIO E SEM DÓ
DE SEU FILHO, TÃO TRISTE
E TÃO SÓ.
COM SUA VOZINHA, FRACA,
E CANSADA,
FICA NAS RUAS PERDIDO
A PEDIR POR PRESENTE
APENAS UM DIA SÓ SEU;
POIS NÃO SABE, AFINAL, DISTINGUIR,
COMO ALGUÉM, QUE COM FOME
CRESCEU,
NOS ANUNCIOS DAS LOJAS
QUE GRITAM E PROCLAMAM
QUE ELE TAMBÉM É CRIANÇA
E ESSE DIA É O SEU.

CICATRIZES, 2010

May 20, 2010

LEMBRANÇAS, LUGARES, SAUDADES,
AUSÊNCIAS, PENSAMENTOS.
SÃO ROSTOS, SÃO NOMES,
CHEGADAS, SÃO PARTIDAS.
SÃO TUDO, SÃO O NADA…
MOMENTOS.
NOS CAMINHOS DA MENTE,
SÃO VOLTAS,
ALEGRIAS,
TRISTEZAS.
FRASES PERDIDAS,
SEM RESPOSTAS, EXAURIDAS.
SÃO PASSADOS,
EM PÁGINAS AMARELADAS.
GASTAS NO TEMPO VIVIDO,
QUE VOLTAM E GRITAM.
PRESENTES.
AMARGAS, FERIDAS.
GUARDADAS, ESQUECIDAS.
MEMÓRIAS DE OUTRAS VIDAS,
ESMAECIDAS, RECORTADAS,
ENFRAQUECIDAS.
TEMPO PERDIDO
NAS MARCAS QUE FICAM
DAS CICDATRIZES.
FERIDAS ABERTAS
NA MENTE E NO CORPO.
SENTIDAS.

SOMBRAS, 2010

May 4, 2010

UM PESO, UMA TRISTEZA,
FRUSTAÇÕES, CANSAÇOS.
SENSAÇÃO DO NADA,
DESILUSÕES.
VAZIOS, SOMBRAS,
PASSADAS.
NÃO MAIS RECONHEÇO
MINHA NATUREZA
DE OUTRORA.
FIM DE JORNADAS,
CICLO DE VIDAS,
VIVIDAS,
EM MIL LUGARES;
PERDIDAS,
EM MIL PEDAÇOS.
DORES, ALEGRIAS,
SOFRIMENTOS.
VITÓRIAS, CONQUISTAS,
DERROTAS, ARREPENDIMENTOS.
ENCRUZILHADA DO SER
E DO NÃO-SER.

Buraco Negro fev 2010

February 6, 2010

Tentando dormir,
tropecei em meu sono
e caí no buraco negro
da mente.
No susto, não consegui
achar o caminho da volta,
pois, no escuro
tudo se voltava,
de repente,
num turbilhão
de cenas e pensamentos
difusos, confusos;
era eu….não era mais,
um animal….um cão?
Era tudo ou só momentos
de cenas em confusão,
talvez vividas ou sonhadas?
Sem ordem, sem senso
lógico
nem cronológico.
Sem seguimentos,
sem nomes,ou com muitos,
em gritos, chamados…espantos.
Risos de alegrias,
e longos silêncios,
soluços,
de tristezas.
O belo…sem belezas.
Em cenários sucessivos,
alguns quase mortos
outros muito vivos,
fui herói, fui bandido,
fui aclamado
fui banido,
fui amado,
fui traído.
Mas, traidor,
também fui
e fui perdido,
num mar de ondas
rebeldes e negras,
sem me conhecer
e fui caindo,
ainda mais fundo,
no negro mundo,
sem saber.

correções fev 2010

February 5, 2010

1ª Início do poema….Foi assim…

2ª nação com sangue nas veias,
curtida no amor à terra, e

Informação: a nação é constituída entre outras partes, de povo e território, daí ela foi curtida com esse povo que ao defendê-la de tantos intrusos e por revoltar-se contra enormes desmandos internos, derramou esse sangue valioso e criou um só povo, único em seu amor à terra de nascimento, orgulhoso de tudo,valente, peleador,sincero, dedicado e muito leal a seus amigos e princípios. Chega ser engraçado quando me dizem, carioca “ferrenho”, flamenguista “doente” – “filho de gaúcho É GAÚCHO” …..Bah Chê!

Foi assim……ode a meu povo

February 3, 2010

Foi asim…por mero acaso
que cheguei , certo dia,
à terra de meus pais.
Ainda um menino, pouco sabia
ou um quase nada
sobre os campos distantes
de ventos frios e cortantes
do extremo sul do País.
Essa terra guasca e lindeira
de gente pura e acolhedora
plena de simpatia e lealdade.
Terra de encantos, protetora,
que em realidade era a de todos
meus mais antigos ancestrais.
Rio Grande do Sul, uma nação
orgulhosa de seus feitos e tradições;
uma nação verdadeira,
cuja bandeira, tremulando,
carrega os traços rebeldes
de muitas guerras e peleias
nação com sangue forte nas veias, curtida no amor à terra e,
a defendê-la fez jorrar esse sangue
por várias gerações.
Menino carioca, da capital
me achando soberano, o tal…
aprendi , muito cedo
a domar o potro da vaidade
e a me entregar de alma,
sangue e corpo
ao minuano campeiro.

Por que? ( faz tanto tempo…)

January 22, 2010

DE REPENTE O VAZIO
TRAZ O SOM DO NADA,
E NO SILÊNCIO QUE CRIO
VEM A AUSÊNCIA DE TUDO.
PARADO, INCRÉDULO, MUDO
NÃO QUERO SENTIR A FALTA
QUE CRESCE NO CORPO
E NA ALMA, E MALTRATA
O CORAÇÃO VACILANTE
COM AS INCERTEZAS
DE AMANTE,
DE TRISTEZAS.
POR QUE IR ADIANTE
NA ILUSÃO FUGAZ
DO AMOR VIVIDO?
O AMARGOR QUE VEM À BOCA
É A PERDA SENTIDA,
E LÍVIDO
BUSCO COMPRENDER O PARTIR
SEM ADEUS, SEM PORQUE.

Reflexões Angolanas

January 15, 2010

ANGOLA
Um belo país, um belo povo, uma triste sina …
Antes que a memória se apague, vou comentar uma série de acontecimentos vividos por mim nesse país maravilhoso, pleno de tradições culturais, arte, musicalidade, crenças e, por que não, mesmo com uma guerra devastadora, hospitalidade. Esse primeiro fato procura apenas registrar a visão , ainda hoje distorcida, do europeu ( ou de todos nós?) do africano em geral. Em certa época, durante os cinco anos de minha permanência no país, fui convidado para um “fungi” (comida típica angolana) na casa de um funcionário local. Ao comentar o convite com dois colegas ingleses, veio a resposta….fulminante “não vá…eles vão lhe envenenar….eles não gostam da gente”. Isso dito com real pânico…Foi uma das melhores noites passadas em Angola…..

LUANDA
Luanda, primórdios dos anos 90, quinze anos após a retirada das tropas de Portugal e da debandada dos portugueses; a cidade….um cáos. Construída para abrigar cerca de 500 mil habitantes, já suportava dois milhões. Abandonada à própria sorte Angola, embora independente (seria?), lutava contra inimigos maiores: disputas internas pelo poder absoluto, falta de mão de obra qualificada quer em escolaridade, quer em formação profissional, colapso do saneamento básico, falta de água, de comida, de transportes públicos, escolas deficientes, universidade fechada pela falta de pessoal, lixo sem recolhimento regular, inconstância na energia elétrica…..Herança colonial – tudo ter , nada dar – Quadros qualificados? Para que? O nativo – visto apenas como valor secundário – a ser mandado, a cumprir ordens, a servir ao senhor colonizador. Exagero? Por certo não.
Descia o avião e podia-se contemplar a beleza da baia de Luanda às primeiras horas do dia. Uma volta longa direcionando a aeronave no rumo do aeroporto 4 de Fevereiro. Embaixo, o “Roque Santeiro”, maior mercado livre a céu aberto e….. “musseques”, muitos musseques. Onde ficara a Rio de Janeiro africana?
No aeroporto, a grande angústia. Na confusão de pessoas que chegavam, que ali estavam porque simplesmente haviam penetrado no desembarque, dos homens escalados para receber as “autoridades” (não havia serviço de ônibus ou mesmo de táxi) As malas, onde estão as malas…?
Uma só esteira, horas de espera, incertezas, preocupações, empurrões, xingamentos, olhos atentos…enfim… olha lá, a primeira mala…e a outra…chegou….sumiu?
Trânsito caótico, buzinas em estardalhaço, “candongas” lotadas, lixo pelas ruas, muito lixo.
Enfim, cá estamos. Viva a aventura !
podemos condenar um povo,abandonado após cinco séculos, de apenas ter servido como agente secundário do colonizador?

AS ELEIÇÕES DE 1992

O período pós-eleições angolanas de 1992 não estava tranqüilo. A vitória nas urnas favorecera ao candidato do MPLA, cuja campanha fora orientada por uma agência de publicidade brasileira. Observadores internacionais ratificaram o resultado, mas o candidato derrotado, líder do partido-exército UNITA, alegava fraude na apuração. Dia-após-dia a tensão aumentava com declarações e ameaças contestatórias. Em nosso canteiro de obras, no interior do país, acompanhávamos os acontecimentos acreditando que a paz selada alguns meses antes das eleições, seria mantida, mas tomávamos várias precauções. Havíamos erguido uma torre com cerca de setenta metros onde colocamos antenas capazes de captar os sinais de emissoras de televisão de vários países europeus e que nos permitia também a comunicação via rádio em longas distâncias. Tínhamos ainda excelentes equipamentos de rádio transmissão que nos davam condições de falar diariamente com nosso escritório em Luanda, com o Brasil e com vários outros países. No passar dos dias fomos notando o crescente movimento nas estradas,de grupos de homens com o uniforme da UNITA, que se deslocavam armados em direção ao norte. Em pouco tempo havia um grande número de soldados acampados na vila de Cafunfo que possuía, assim como em nossa base, um campo de pouso. Tínhamos a real preocupação de uma invasão, pois o produto de nosso trabalho – o diamante – junto com o petróleo de Cabinda, era de vital importância para o governo, como o seria na posse de seus opositores. Um dos equipamentos de grande alcance foi escondido em um quarto de nossa casa de hóspedes e de lá passamos a informar continuamente a evolução dos acontecimentos. Para nossa segurança externa havia um pelotão de polícia com cerca de vinte homens, comandados por um jovem tenente. Internamente possuíamos um grupo de seguranças que incluía os famosos Gurkas do Nepal. Contatos foram mantidos com o Brigadeiro Futungo que chefiava as forças da UNITA, buscando melhores informações e conhecimentos de seus movimentos.

A INVASÃO

meninos-soldados correm pelo mundo…armas em punho, drogas no sangue, sangue nas mãos…

Certa manhã fomos alertados da passagem, em nossa direção, de pesado comboio de soldados da UNITA. Medidas urgentes foram tomadas, para retirar para Luanda os altos funcionários angolanos, que seriam, com certeza, alvos prioritários. Nosso estoque de diamantes que seria embarcado naquela manhã, ficou nos cofres…, pois não houve tempo para salvá-lo e a prioridade eram as pessoas.A invasão foi violenta. Granadas explodiam e tiros eram feitos em todas as direções. Meninos-soldados juntos aos mais velhos, quase todos drogados, avançavam atirando. O pelotão de policiais, em debandada, buscava refúgio nas matas. Nada poderia ser feito a não ser procurar abrigo. Estávamos ali para trabalhar não para guerrear. Era o início de longos e penosos dias….
A INVASÃO CONTINUAVA
Passados o espanto e o choque dos primeiros momentos, procuramos retomar a situação ameaçada e buscamos o contato com o comandante do ataque. Já não se ouviam tantos tiros, pois os meninos-soldados percebiam que não houvera reação em armas. Nos primeiros passos fomos interceptados por alguns deles que gritavam “motorola”, “motorola”, “motorola”, apontando para o rádio colocado à cintura e fazendo sinais para que o entregássemos. Logo encontramos o coronel que chefiava o grupo e pudemos nos identificar, invocando o conhecimento com o brigadeiro Futungo. Durante algum tempo mantivemos uma conversa tensa, na qual o comandante deu-nos 24 horas para nos retirarmos do local, – somente os expatriados. Os angolanos deveriam permanecer. Ante a nossa negativa de abandonar os funcionários angolanos, tornou-se mais agressivo. O restante de seu pessoal entretinha-se na busca de objetos, comidas e bebidas. Muitos exigiam as chaves dos carros. “as carrinhas, as chaves”. Ia ser um longo dia…..

Mas, conseguiramos retardar a retirada do pessoal, cerca de 1200, argumentando a impossibilidade de fazê-lo em 24 horas. Seriam várias viagens, inicialmente feitas pelos aviões previamente contratados à uma empresa dirigida por ex-oficiais russos e completada por aviões da Força Aérea Brasileira. Os vôos iniciais dirigiram-se para Luanda, mas pelos violentos conflitos na capital, foram redirecionados para a Namíbia.
Era uma situação absulutamente surreal que envolvia homens e mulheres de cerca de dezoito nacionalidades. Apesar de muitos feridos tudo afinal dera certo. Para trás ficaram os sonhos, muita dedicação e trabalho, mas à frente teríamos a esperança, muito angolana de dias melhores.

Dúvidas

October 31, 2017

Dobram os sinos na torre da igreja,
sons que choram a dor da morte;
morre a esperança,morre a poesia
mas, talvez,nada disso importe,
pois, ao final de tudo,apenas seja,
o renascer de novo tempo que surgia!

Refazendo

Tanta coisa que fiz,
e não devia fazê-lo,
tanta coisa que não fiz
que deveria ter feito.
Por que tanto zelo
por alguém imperfeito.
Qual vento que leva o tempo,
o tempo carrega a vida
e fica só a essência, perdida…

Time tunnel

Just a leaf in the wind,
in the tunnel of time,loose,
life is but a moment
between joys and sorrows
of those who in victories lost
the greatest sense of growing.
Passenger of his destiny, he
follows alone,to the taste of living
without a course of his and true
slave,of an uncertain future,
living the life in the present
and looking at the time
that has passed.
He walks into nothingness
and darkness,
but who knows the darkness
is the light of this life and lead us
from this world so full
of miseries.

Descaminhos

June 17, 2015

Procurei antigos livros para tentar saber

como se pode virar as páginas da vida,

mas, nessa longa e intensa busca percorrida

nenhuma linha que foi lida, me deixou perceber

se é possível, enfim, mudarmos nosso acontecer,

para poder recriar novos caminhos e destino.

Sem qualquer chance de escolha e mesmo sem querer,

aprendi finalmente então, que não somos somente nós

a conduzir nossas vidas em todos os atos e passos

e, para não cometermos nenhum engano ou desatino,

vamos vivendo segundo a sinfonia de velhos compassos

que é regida sem nuances, bem de longe de nosso ser

para ficarmo, como autômatos, presos ao que foi escrito,

na ilusão efêmera que estaremos então a conduzir

nossas vidas, por tudo aquilo que já temos dito

que fizemos, que construímos, somos ou faremos.

Mas, sem condições reais de poder modificar

tudo que já somos, imediatamente ao nascer,

seguimos obedientes no caminho que recebemos.

Confissões

June 7, 2015

Vivendo no curto tempo à frente

e apesar de não querer pensar nelas,

algumas lembranças estão comigo,

maltratando meu corpo e mente

como feridas que deixam sequelas

provocadas pela ação de um inimigo.

É uma forma constante e mui danosa

que me atinge e se torna perigosa.

Sei que fiz coisas que não devia,

mas também não fiz outras que merecia.

Em algumas delas, fui traído,

em muitas outras fui culpado

por fazer sofrer alguém amado

sem perceber o quanto estava errado.

Gostaria de ter o poder de bloqueá-las

por não mais suportar e pensar

em parte desse passado que me faz mal,

pois me maltrata e me persegue

há tantos anos, e mesmo assim segue

a me mostrar os erros cometidos,

confrontando-me com toda a incensatez

da visão míope, falsa e superficial

dos relacionamentos não compreendidos.

O CACTO – Cassiano Ricardo -1954

May 29, 2015

Hoje, quero prestar meu tributo ao grande poeta Cassiano Ricardo, transcrevendo um de seus poemas mais marcantes.

Vamos, todos, brincar de cacto
na areia da nossa tristeza.
Uma fôlha sôbre outra,
em caminho do céu intacto.

Uns nos ombros dos outros,
um braço a nascer de outro braço,
uma fôlha sôbre outra,
formaremos um grande cacto.

De cada braço, já no espaço,
nascerá mais um braço, e dêste
outros braços, qual ramalhete
de flôres para um só abraço.

Filhos da pedra e do pó,
fique aqui embaixo o nosso orgulho,
pisado sôbre o pedregulho.
Formaremos, um corpo só

(uma fôlha sôbre outra
uma fôlha sôbre outra,
um braço a nascer de outro braço),
a nossa escada de Jacó.

Pra que tôrre de Babel
ou o Empire State, compacto,
se, uns nos ombros dos outros
chegaremos ao céu, num cacto?

Uma fôlha sôbre outra
e já uma árvore de feridas
por entre os anjos de azulejo
e as borboletas repetidas.

Que fique aqui embaixo a terra;
lá de cima nós tiraremos
uma grande fotografia
do seu rosto de ouro e prata.

Pra provar a Deus que a terra,
numa fotografia exata,
não é redonda, mas chata;
não é redonda, mas chata

Pra provar, por B mais H,
que o homem, animal suicida,
já sabe fabricar estrêlas…
Se é que Deus disto duvida.

Que iríamos fabricas luas
(se não fôra pra Seu gáudio,
o espião nos ter furtado a fórmula)
mais bonitas do que as Suas.

Vamos, todos, brincar de cacto,
uns nos ombros dos outros,
um braço a nascer de outro braço,
uma fôlha sôbre a outra.

Vamos subir, de fôlha em fôlha,
mais alto do que vai o avião.
Lá onde os anjos jogam pedras
no cão da constelação.

Que outros usem o avião a jacto
pra uma viagem em linha reta:
nós, filhos da planície abjeta,
subiremos ao céu num cacto.

Uns nos ombros dos outros,
injustiças sôbre injustiças,
formaremos um verde pacto…
Vamos, todos, brincar de cacto,

Vamos, todos, brincar de cacto.

Vida virtual

May 29, 2015

Quantas palavras vazias são ditas

nesta ciranda de uma vida inútil

que, na verdade, não dizem nada,

pois são apenas frases mal ditas

de uma pessoa simplesmente fútil,

que melhor seria permanecer calada.

Na correria de uma existência virtual

amor e amizade são momentos iguais

à previsão do tempo, falar o trivial

de coisas constantes e sabidamente banais.

A vulgarização de um forte sentimento

tornou-se desse modo tão corriqueira

que, talvez, em um pouquissimo tempo

seja apenas uma sensação passageira.

das

Morte e vida

May 27, 2015

No equilíbrio da vida e da morte

plantei sementes que criarão flores,

e todos os dias busco nesse recanto

de saudades, seguir esse nascer,

sopro da força de novas energias

que preencherão os espaços mortos.

A morte é apenas a passagem no portal

da vida para outras possíveis dimensões,

mas a energia cósmica não se perde,

e retorna ao todo para novas vidas.

Preconceitos

May 19, 2015

Vinha correndo e parou, quando me viu;

imagem inusitada neste frio mês de abril,

aquela criança negra a me olhar e sorrir,

bracinhos abertos, a se equilibrar nas pernas

na fuga da mãe, que lhe corria, também a rir.

Neste mergulho americano, acenei a elas

agradecendo o calor humano sem preconceitos

que vem das crianças, simples, puras e ternas,

a mostrar às pessoas que podemos ser aceitos

não importando a cor ou as origens delas.

Regresso ao Uno

May 16, 2015

No vazio que ficou da morte de minha irmã,

veio a presença de pessoas tão queridas,

que também um dia cruzaram esse portal.

Onde estarão, o que serão elas agora?

Nuvens, ventos, água,terra, energias?

Eram carne, corpos, vida, sentimentos.

Emoções trocadas em abraços, risos, carinhos,

mas também em dúvidas, tristezas, frustações.

Nos deixaram seguir em frente os caminhos,

tantas vezes compatilhados, agora sozinhos.

Como a luz tênue do final do crepúsculo,

foram aos poucos se apagando de nossas vidas,

deixando as saudades e sentidas ausências.
.
Hoje, são lembranças que ficaram em nós,

mas que permanecem bem vivas e eternas

THEREZA

April 12, 2015

Em um número uma vida acaba,

e substitue um nome que fica

apenas na lembrança de alguns,

de quem foi, que fez, o que amou,

e o quanto a amamos.

São sombras, apenas cinzas,

de quem antes foi paixão,

esperanças, sofrimentos, alegrias.

De sua energia florecerão vidas

como novas flores, e será eterna.

Poema de Manu

March 19, 2015

Ogni poesia sta da sempre assopita
sotto la patina opaca di una pagina bianca,
in attesa che venga il suo poeta a darle vita.

Non occorre un progetto dettagliato.
La poesia prende il largo senza fretta,
ammaliata dall’infinito numero di rotte
che il foglio bianco e vuoto le prospetta.

Il poeta ruba il suono alle parole arenate
nei febbrili fondali della sua nostalgia.
Con che sollievo le lascia fluire dalle dita,
liberandosi dalla pena che sfocia in poesia!

È magica mutazione del dolore in arte pura,
alchemica trasformazione in gioia estetica…
perché la poesia non é una malattia… è una cura!