Archive for November, 2012

November 9, 2012

A DANÇA DA VIDA

O vento passa…é cortante e frio;

com ele perde-se ao longe a esperança

e vagando, em minha mente crio

sonhos que a vida não alcança.

 

Nesse campo deserto e tão sombrio

em que o destino minha vida lança.

nada fulge, pois o tumular estio

jamais verá outros anos de bonança.

 

E na poeira que rola nos caminhos

vejo meus sonhos se perderem agora

e o último raio de alegria ir embora.

 

Essa tristeza que em minha alma gora

é planta que por flores tem espinhos

nascidos pela falta de carinhos.

November 9, 2012

PROSTRAÇÃO

Eu se chorar, fraqueza lhe parece,

pois não sentiste o que sinto agora,

quando triste, prostrado rezo a prece

de um homem só que na tristeza chora.

 

E quando sinto que meu rosto empalidece,

olhando alguém que se vai embora,

cumprindo a teia que o destino tece,

levando o amor de quem mais te adora.

 

E quando em mim nada mais resta

e já a noite com seu manto empresta 

a escuridão a meu triste mundo,

 

eu choro e sem vergonha eu clamo

que a vida que pela vida eu amo

jaz perdida num abismo fundo.

 

November 9, 2012

ASTRO REI

Tristemente desce o sol pela colina, 

sorrindo em doce despedida

do campônio que o saúda alegre.

Quantas histórias ele sabe?

Todas.

Não descansa nunca, não pode parar.

Muitos já o saúdam na chegada,

do mesmo modo que por alguém

foi saudado na partida.

Ele segue seu ciclo,

são outros lugares, outras gentes,

conhece a todos.

E sorrindo em doce despedida,

tristemente desce o sol

pela colina.

November 9, 2012

CADEIAS PARTIDAS

Quero soltar estas negras correntes

que me prendem e fazem mal,

quero viver livre, cantar, quero amar!

Deixar cair, um a um, todos os elos,

ganhar a liberdade por minutos.

Quero voar pelas planícies,

encontrar nas alturas do céu

o teu amor perdido no abismo da terra.

Quero que só nós dois, unidos

num último e desesperado vôo,

busquemos a felicidade adormecida

 

November 9, 2012

TREVAS

Como é triste a noite sem luar, 

tudo imerso nas trevas, sem cor

e como é triste também ficar

na vida desiludido do amor

 

Procurando sempre sem achar

alguém, um só carinho que for.

Sentir na vida um vazio, amar

e só, da solidão sentir horror.

 

Ainda sigo procurando a minha lua

que posso achar aqui ou talvez na rua,

ou nunca achar e continuar no escuro.

 

Porque faz tanto tempo que procuro

e nessa busca infeliz eu não me curo

nem consigo esquecer aquela imagem tua

Da série – Poemas Adolescentes – 1953/1955 – Rio de Janeiro /Porto Alegre

November 9, 2012

BUSCA

Cansado, nem forças tenho p’ra chorar,

pois sofrendo vaguei a procura de um bem

sem jamais um só amor eu encontrar,

sem sentir jamais o afeto de ninguém.

 

Nunca cruzaram os meus um só olhar,

que me dessem a esperança de também

neste mundo ter o direito de amar

e ser amado neste mundo por alguém

 

 Há os que nascem destinados

a viver sempre só, abandonados,

vivendo, mas da vida esquecidos

 

E entre esses assim perdidos

sofrendo amores não correspondidos,

vou seguindo a sina dos não afortunados

 

O valor da verdade, 1962

November 8, 2012

Naturalmente que estava abalado, pois naquela manhã cinzenta de nuvens tristes, reconhecia-se amendrontado. Seus atos mecânicos, não refletiam a segurança que procurava aparentar. O grande picadeiro da vida enchia-se de figurantes, que giravam ao seu redor indiferentes ao medo que lhe queimava as entranhas. O vento que soprava dúvidas não conseguia levar ao longe seus pensamentos. Estava pronto para o salto. Na pista, o monstro metálico, arrogante, roncava seus motores em gritos que eram maldições. Era um preságio da morte. Ele estava com medo. Medo dessa possível queda fatal, medo da verdade eterna, medo do último julgamento. Sua culpa? – a mentira! Enganara, brincara com o amor, perdera seu próprio respeito. Agora, em lágrimas que corriam mansas e escondidas, sentia todo o mal que causara.

Era seu filho, e o renegara. Era seu sangue, e perdera-se para sempre no rio vermelho do desespero. Faltara-lhe a consciência da verdade, a coragem do homem realizado, a certeza do amor sentido. Estava só diante da verdade dos justos – que temia.

Como pôde ter aceitado tudo aquilo? Como explicar que já era casado?

Estava na boca aberta do infinito, a instantes de lançar-se ao desconhecido. Reconhecia, nesse momento, sua pequenez de homem.

Desgraçara uma vida, destruíra um futuro. Não deveria passar impune diante diante da justiça do grande Diretor. Esta era ,enfim , sua verdade. Nervos tensos lhe endureciam as feições quando se lançou no espaço dos eternos. 

ORIGENS, J. C. BRAUN

November 8, 2012

Se me perguntam – respondo,

venho da terra jesuíta,

sou daqueles que acredita

que o mundo velho é redondo,

sou gaúcho e não escondo,

do meu orgulho de sê-lo;

mistura de terra e pelo,

misto de touro e de potro

que não podem fazer outro,

porque extraviou-se o modelo!

Vou chegando e desencilho,

no sentido figurado,

neste pago iluminado,

como cantor andarilho,

podem me tratar de filho,

de pai – de amigo – de irmão,

sempre é a mesma gratidão

do gaúcho abarbarado

que um dia foi batizado

na catedral de um galpão!

E se não tenho canudo,

anel de grau de doutor,

me diplomei payador,

gaúcho – acima de tudo,

no plenário macanudo

da primeira faculdade;

na velha Universidade

do pampa – o meu universo,

e fiz o primeiro verso

pra  rimar com liberdade!

Quem me chamar copiador

de gaúcho castelhano,

esquece que sou pampeano,

graças a Nosso Senhor

e a alma do payador

não se curva a nenhum trono,

sempre fui meu próprio dono,

no verso e no improviso

e por isso não preciso

de usar o papel carbono!

Quem se declara inimigo

das cousas do nativismo,

não deve ter o cinismo

de procurar nosso abrigo,

nem presente – nem antigo,

pra que nada se confunda,

há o perigo de uma tunda,

pra não ser mal-ensinado

que todo o piá malcriado

leva um planchaço da bunda!

Os que gostam de baiões,

de xaxados ou de roques,

ou preferem outros toques

alheios às tradições,.

procurem outros fogões,

com rumba – com suingue e conga,

porque aqui – o chão se prolonga

no velho pampa bravio,

vale – vanera – bugio,

schotis – rancheira e milonga!!!

 

Uma vez mais, 1963

November 6, 2012

Todos se foram, estás só. Voltaste a tua solidão amiga. Tua cabeça tonteia e atuas como se tu fosses um boneco, mecanicamente. Recolhes os copos, limpas os cinzeiros, estás só! 

Tudo é falso ao teu redor. Só esta dor é tua, acolhe-a. Hoje, foi o  final de todos os teus sonhos. Hoje, tudo se acabou. Sem que tu o pressentisse, hoje tua vida mudou. Com que tristeza recolheste os restos do que pretendeste ser uma festa de aniversário. Tua cabeça cada vez mais tonta, já não concatena as idéias, e tu escreves….

Tu escreves as mágoas de teu coração . Como podem as pessoas ser tão egoístas?  Tu pensas como no ano passado tudo seria diferente. Mas, hoje, eles têm seu ninho, não precisam de ti. Por que permanecer mais tempo contigo, se podem ficar sozinhos? Es uma carta fora do baralho, já não precisam de ti. Está na hora de partires. Diga adeus a todos. Tua hora soou. Estás sobrando na roda da vida. Este grupo já não é o teu; perdeste-o na voragem dos acontecimentos.

E ficaste só

Ninguém se preocupou em como ficaste só.

Todos riram e se foram e tu ficaste,  limpando cinzeiros e copos. Ma não importa, todos se foram.

Esboços, 1963

November 6, 2012

Acabara de desenhar mais alguns esboços. Regina lhe servira de modelo. Em fotografia, é claro.Onde andaria ela? Teria sido feliz em sua fuga matrimonial? Sentado, contemplava sua obra, quando desatou em um riso nervoso. Só agora, notava que “conversava” com suas figuras. Seria essa a forma de fuga mais adequada para sua solidão? Consultou o relógio, ainda teria tempo para a sessão das dez.

No cinema, enquanto aguardava o início da sessão, irritava-se por estar só. Cada casal que chegava, cada carinho que presenciava, lhe causavam estranho mal estar. 

Saiu, acabrunhado, sem olhar para os lados. Afinal, um filme de guerra pouca coisa poderia fazer para lhe melhorar o ânimo.

Chegou ao seu apartamento como um autômato. Com a sala iluminada apenas pela luz do quarto voltou a concentrar-se em seus desenhos. Assim, sob aquela luz difusa, pareciam humanos, tinham vida. Fixou-se mais em Regina, até sentir um calafrio percorrer seu corpo, quando ela lhe sorriu, piscando o olho.Sorria sempre, com seu jeitinho brejeiro. Deu-lhe um – boa noite – sem eco. e foi deitar-se. O relógio da cabeceira marcava 1h30min. Acendendo mais um cigarro, pensou em como estava fumando demais.

Apanhou um pequeno bloco, uma caneta e preparou-se para mais uma noite de insonia.