Archive for October, 2012

VOCÊ,1970

October 30, 2012

De repente, você está fora

de qualquer razão, 

de qualquer entendimento.

Você deixa de ser, de ocupar

um lugar. É um não!

Você é um enorme nada, 

vazio.

Ser anti-social, desgarrada

criatura errante

na jangal dos homens,

(ou serão feras?),

desde antigas eras

amalgamadas.

Na agitação dos passos

que varrem as ruas

perdem-se suas

mais íntimas confissões, 

de um homem só.

Vida marcada no compasso

da solidão e do desencontro.

Na terceira década 

de sua existência, 

você é um aborto,

morto!

Avança rápido na direção

do espaço infinito, 

longínquo, 

transcendental.

Ser espiritual

em sonhos envolvido,

perdido na irrealidade

de uma fuga patológica,

ilógica,

irreal.

Arquiteto prodigioso

de ruínas, 

você é um colosso, 

em tristes fantasias.

O poder, a beleza, o amor, 

em rápidas braçadas

são alcançados, 

ultrapassados,

no ardor freudiano

de suas compensações, 

emocionais,

Este não é seu mundo, 

aqui não há correspondência

para sua vida, nem clemência

para suas súplicas.

Mergulhe profundamente 

em seus sonhos azuis

e esqueça.

Talvez assim,um dia,

você cresça

e se torne um homem.

 

 

 

 

 

 

O rio

October 30, 2012

Da minha janela 

eu via o rio.

Um rio imenso, 

tenso, 

de diferentes cores, 

de história, e de estórias, 

de vida e de mortes,

de mil valores, 

de risos e ais,

brutais.

E todas as tardes

eu vinha à janela

e via o rio,

um braço brilhante

de amante

a envolver as terras

que despencam da cidade

(sem piedade).

Eu via o rio 

até aonde a vista

 alcança

e se lança

a mente.

Eu via o rio

deitar sobre a terra

em tons variados, 

que o céu, de ciúme,

lhe emprestava.

E eu estava ali

a ver o rio,

todas as tardes, 

sem alardes,

quieto como o rio, 

triste como ele, 

nessas horas cinzas

 de todas as tardes.

E tantas vezes

eu vi o rio

que aprendi a conhecê-lo

em todo o seu íntimo.

Em um átimo,

eu o senti;

seu braço me envolveu

também.

Brilhou dentro de mim,

e eu senti o rio

a correr em meu corpo.

Nunca mais precisei

chegar à janela

para ver meu rio.

 

Descaminhos

October 30, 2012

Sem pedir licença

uma onda triste

invadiu minha vida

e construiu barreiras

que bloquearam risos

e trouxeram lágrimas.

Sem perguntar, ainda,

não permitiu espaços

do porque e do querer, 

enfraquecendo o corpo, 

deixando as mágoas

de momentos não resolvidos.

No passado, busquei saber,

mas nas sombras do presente

pude apenas lembrar

o tempo que fluiu

pelos caminhos sem rumo

e tortuosos da mente.

Ode à vida

October 30, 2012

Faça com que possa

crer em teu futuro,

mostre-me que tens força

e transponha o muro

que te faz cativo

da dor e da vergonha.

Teu coração aberto

ao mundo ponha,

desperte a mente

que na vida sonha, 

acenda as luzes 

e fuja do escuro.

Não pense que tudo 

se acabou,

nem que de ruínas

será teu existir,

lute, erga a cabeça, viva,

ou sucumbirás ao medo

que há de vir.

Se tua vontade é fraca, 

faça da derrota teu porvir,

dê-me tua mão e creia

que sou a outra mão

pronta a te servir.

APENAS

October 29, 2012

Era amor, era aconchego, 

era vontade de ficar junto,

era calma, o sossego 

de um sonho sonhado.

Trocas de carícias,

eternas juras

que se estiolaram

no tempo corrido 

da vida em comum.

Onde se escondeu

a antiga paixão, 

onde ficou perdido

tanto amor?

Como duas pessoas

que se amaram

são, agora, apenas amigos?

Onde ficaram as carícias, o sexo?

São dois unidos,

pensando em ser um, 

seguindo independentes

suas vidas isoladas

que não mais se tocam

como antes.

Juntos, vivem tão separados

como se longe estivessem.

São vidas a parte

que se relacionam

sem serem um par.

Apenas tentam cumprir

a promessa feita no altar

de ficarem juntos

até que a morte os separe.

 

 

Fim de festa, 1967

October 26, 2012

Louca confusão!

É o final da festa.

Pontas de cigarro

pelo chão,

marcam a realidade

do gosto amargo

pelo sarro, 

que ficou na boca,

do cigarro.

Um vazio imenso

ao ambiente empresta,

a presença do arrependimento.

Foram risos,

foi música, 

foi farsa.

Busca infeliz de um nada,

estampada,agora,

nos olhos cansados,. 

descrentes e perdidos.

Copos derramados, 

paredes marcadas,

por mãos suadas. 

Tudo já é passado.

Alegria-mulher que invadiu,

motivadora, minha solidão.

E nada ficou, 

nada de profundo, 

de definitivo. 

Nada que valesse a pena, 

apenas um passo

a mais,

na busca do ego

 do eu interior,

que não conhecemos.

Século da cibernética,

das máquinas infernais,

computadores,

robôs.

órgãos artificiais.

Homem-mecânico 

do século vinte.

Tudo foi pesado, 

balanceado,

meticulosamente dosado!

Para que?

Para nada!

Se teu coração vai mal,

nada de anormal,

 terás um novo,

a pulsar vigoroso,

injetando sangue 

em teus tecidos.

Genial!

E teu sistema nervoso, 

teu cérebro,.

tua consciência,

tua vivência

anterior?

Século da genética,

da potência energética.

Situação patética,

o vazio da alma,

no vazio da sala,

que me embala

em mil pensamentos,

em arrependimentos, 

que são angustias.

 

Central do Brasil,1968

October 26, 2012

Que estranho grupo,

matinal,

eu vejo todos os dias

na central.

Velhos mendigos, bêbados inocentes,

reticentes:

débeis mentais maltrapilhos, 

prostitutas insones,

no roldão do povo

de rostos sem nome,

derramado.

O homem a bater

com a tábua

nas árvores incrédulas.

O pastor que prega,

em péssimo português,

ao povo que passa,

com pressa,

já sem convicção,

nem religião.

De quando em vez,

um ladrão!

A professora-criança

de livros e sacolas,

em demanda da escola.

Amostragem de um povo

brasileiro,

na luta sem tréguas,

 do dia-a-dia.

na busca do pão nosso

de cada dia, 

em várias formas,

nos diversos caminhos, 

das ilusões,

de tantos corações

que formam o grande vazio

sem esperança.

Povo-formiga, rude, grosseiro,

sujo, suado, 

que não olha para trás,

mal humorado,

que cospe no chão

do vagão, 

que viaja nas portas 

do trem, 

pingentes da morte,

no vai-e-vem

 da sorte.

Povo-Brasil

amalgamado

no afã da sobrevivência.

Gado-humano a desembocar

no matadouro.

Quem crê em ti fantasma?

EU!

 

 

Quebrando paradigmas (continuação)

October 26, 2012

Mais tranquilo, fui para sua casa, onde tive que entrar pela janela, a mesma por onde fora retirada pela polícia e que, por sorte,  não fora utilizada por mais ninguém. Como não pude me comunicar com minha irmã, ainda muito prejudicada pelo AVC, tive que fazer um verdadeiro exercício de imaginação para tentar descobrir onde poderia estar guardada a chave da casa (minha mala ficara do lado de fora). Após algumas buscas sem sucesso, consegui encontrá-la e pude abrir a porta e recolher minha bagagem.Começava uma nova e inesperada etapa de minha vida, que perdura até o dia de hoje e não tem data para qualquer tipo de mudança.

QUEBRANDO PARADIGMAS LONGE DE CASA

October 26, 2012

O título me foi dado por minha sobrinha Suzana, com a sugestão que escrevesse um livro narrando essa quebra de modelos e  estruturas, ao executar tarefas que seriam, com mais propriedade, exercidas por uma mulher. Bem, o título é ótimo e convida mesmo a escrever qualquer coisa, mas daí a se chegar a um livro há uma distância  medida em competências. Na verdade, sinto-me esse destruidor de paradigmas ao cuidar da casa, cozinhar, lavar louça, lavar roupa, secar, passar, costurar. cuidar dos jardins, lavar banheiros e cozinha, ir ao mercado, procurar os melhores preços, pagar todas as contas, ir todos os dias ao hospital levando alguma coisa e trazendo roupa suja……..coisas próprias das super mulheres, nossas conhecidas ou não que diuturnamente as executam à perfeição. Bem, mas vamos ao começo de tudo, já que resolvi preencher este meu Blog com mais alguma coisa além de poesias.

Retornemos ao ao ano de 2011 e vamos me encontrar em Florianópolis nos meses de maio, junho, julho e princípios de agosto. Fazia o frio próprio das regiões sulinas e a praia fora substituída por duas horas e meia de execícios físicos diários. Estava em belíssima forma, com corrida, aparelhos os mais variados, ginástica básica dos para-quedistas. bicicleta. Corpo e peso dos aúreos tempos dos vinte anos. A vida estava tranquila o que dava a chance de praticar um pouco de golfe. No dia 13 de agosto……recebi um telefonema de minha irmã Regina me alertando que estava sem comunicação com nossa irmã Thereza. que mora dos Estados Unidos. No último contato havia estranhado sua dificuldade em falar e pedira que fosse imediatamente a um hospital, mas Thereza havia se recusado.Após mais tentativas inúteis de contato, decidimos apelar a um casal amigo, ela brasileira, ele americano que mora na mesma cidade. Ele acionou a polícia que foi encontrá-la caída no chão do banheiro. Transcorrera uma noite e metade de um dia, sem que Thereza tivesse qualquer tipo de socorro ao derrame que sofrera. Em prantos minha irmã Regina me informou o ocorrido e decidi imediatamente retornar a Belo Horizonte e daí aos Estados Unidos, onde cheguei no dia 19 de agosto de 2011. fui apanhado no aeroporto pelo casal amigo e de lá para o hospital. A ansiedade era muito forte, pois devido ao tempo que minha irmã ficara desarcodada, sem atendimento, eu não sabia se iria encontrá-la com chances de vida ou não. O hospital, magnífico, muito bonito, bem organizado e com equipamentos de primeira grandeza, Felizmente, encontrei minhairmã com vida, embora bastante prejudicada e com todo o lado esquerdo do corpo paralizado.

Assim…..

October 8, 2012

Quero-te toda assim, abandonada

em meus braços, louca, embriagada.

Sobre meu peito entregue, possuída,

em corpo, espírito, na própria vida.

Quero-te assim gemendo qual bacante.

que se entrega inteira ao fogo do amante,

que nas chamas do amor e em desvario,

beija, morde, arranha, suplica em delírio.

Quero-te assim, cabelos desgrenhados.

mancha escura em coxins molhados,

pelo suor que emana de teus seios,

altar sagrado dos mais ricos veios.

Quero-te assim nas horas de doçura,

em medrosas carícias, toda pura

afagando cabelos despenteados

como a mãe ao filho, entre cuidados.

Quero-te assim, irmã tão carinhosa

que ao louco irmão aconselha, temerosa

por sua vida do mundo desgarrada,

que a preocupa e faz desesperada.

Quero-te toda assim, fêmea, mulher,

sendo só minha, mostrando que me quer.

Quero-te assim, mistura de mulheres, 

mãe, amiga, amante, o que quiseres

ser – e pelo que és – te quero tanto.

Pois se resumes tudo aquilo que sonhei

em dias de angustias e temores, 

eu sei

que te quero enfim, pois és a vida

que quero 

e junto a ti eu estarei.