ODE

Já quasi morria
C’os olhos nos da
amada.
E ela que se sentia
Não menos abrasada:
_ “Ai, caro Atfes ! _
dizia _
não morras ainda
espera
Que eu contigo
morrer também
quisera”
A ansia com que
acabava
A vida, Atfes, refreia,
E, enquanto a
dilatava,
Morte maior o
anseia.
Os olhos não tirava
Dos do ídolo querido,
nos quais bebia o
Néctar diluído.
Quando a gentil
Pastora,
Sentindo já chegada
Do doce gôsto a
hora,
Com a vista pertubada
Disse tremendo:_
” Agora
Morre, que eu
morro amor”
_ “E eu_ disses ele_
contigo”
Viram-se desta sorte
Os dois finos
amantes
Mortos ambos de um
tal corte;
E os golpes
penetrantes
Desta casta de morte
Tanto lhe agradaram,
Que, para mais
morrer,
recusscitaram.

JOSÉ ANASTÁCIO DA CUNHA (1744-1787)

Um poema de 250 anos que fazia a apologia da liberdade da mulher
contra todos os preconceitos, restrições e tabus da época.

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