Archive for December, 2010

SAUDADE, poema escrito por um comandante da UNITA, em Cuango Cubango, em 1980, durante a guerra civil em Angola (como foi escrito).

December 10, 2010

         I   

Palavra que diz o passado que queremos

Que queremos porque passou

Passou ontem passou agora passou aqui

Porque passou mas ficou a saudade

II

Escravos passaram lá pasaram aqui

Passaram da Catumbela, Luena, Zambeze passado

Passando lá onde ninguém passou então

Passaram os pombeiros

Pombeiros que não são senão os fumbeiros

Fumbeiros que hoje canto

Canto porque também sou pombeiro

III

No ar ficou a história

Na terra a mentira que é história

Pombeiro é hoje ladrão

Ficou fumbeiro sem história

Morreu e não morreu

Morte ficou com inimigo

Morre a morte dele

Morreram só os que não morreram

Mesmo o inimigo sabe que há fumbeiros

IV

Saltavam a saudade

Esqueceram-se da saudade que queremos

Que queremos o que passou

Passou o que ficou a saudade

V

Colonialismo passou

Passou quem ainda é saudade

Da escravatura e do ser combatente

Saudade é para não esquecer

VI

No ar ficou a história

História nossa que o mundo sabe

Sabe e não ousa dizer a história

História do Pombeiro

Que é o Fumbeiro a saudade

VII

Não há adeus ao fumbeiro

Nem aos finados a honra

Nunca ninguém foi pombeiro

Nesta hora do pombeiro

Que é hoje fumbeiro

VIII

Na hora da UNITA pioneira

No luar a História

Na morte a certeza

Veremos a saudade.