Archive for November, 2010

BRANCO OU COLORADO, JCBraun

November 26, 2010

São dois emblemas, dois guascas,

um Branco, outro Colorado.

Relíquias, que no passado,

voejaram com altivez,

levando, mais de uma vez,

da campanha ao litoral

a gauchada bagual,

que de lança e boleadeira

incendiou serra e fronteira

atropelando um ideal!

Estandartes do Rio Grande

eternamente rivais,

que o sangue de nossos pais

tornou mil vezes sagrados

na peleia entreverados

com denodo e galhardia,

fortalecendo esta cria

que foi padrão de coragem

abarbatada e selvagem,

mas cheia de fidalguia!

Um, tem a cor dos brasedos,

dos fogões de acampamento,

e quando tremula o vento,

nas coxilhas desfraldados,

é o sangue bem colorado

da raça em enfervescência,

levando na sua essência

aquele pendão eterno

que foi tronqueira de cerne

na formação da querência!

Outro, é branco como a geada

das alvoradas pampeanas,

e nas dobras soberanas

revela, quando esvoaça,

toda a nobreza da raça

que no voejar se retrata,

parecendo que relata

coragem e desassombro

quando num trono dum ombro

estendido se desata!

Velho lenço Colorado

tu carregas no teu pano

todo o valor haragano

dos cavaleiros charruas.

E acordas  quando flutuas

por essa várzeas assim,

o eco de algum clarim,

que ressurgindo da campa

anda volteando no pampa

o guasca que está no fim!

E tu, velho lenço Branco

como a alma da chinocas.

Tu, que meu sangue provocas

quando te vejo esvoaçar,

comigo hei de te levar

sempre alegre e satisfeito,

atado do mesmo jeito,

seja na paz ou na  guerra

como emblema desta terra

batendo sobre o meu peito!

É tradição do gaúcho

ter amor nesses dois trapos

 e ver na trança dos fiapos

um simbolismo tão santo.

Por isso te adoro tanto

 meu lenço Branco ou de cor

e até Deus Nosso Senhor

que usou bota , espora e mango

lhes garanto que é chimango

se maragato não for!

VAQUEANO, Jayme Caetano Braun

November 26, 2010

Nascido em  catre de lua,

na madrugada campeira,

quando o clarão da boleira

queimava a noite charrua.

Na deusa pampa chirua,

filha de sol e minuano.

mamei até o sobreano,

sem nunca molhar os cueiros.

Lá- onde os pajés missioneiros

me batizaram: Vaqueano.

Na marca da identidade,

carrego  a estampa de todos;

andejos e rapsodos,

criados na imensidade.

O vício da liberdade

adquiri no infinito,

desde que o Tupã bendito

num gesto paterno e largo,

me deu o sagrado encargo

de fazer mapa – solito.

Hoje – a guitarra das fontes

já não traz bordoneios,

morreram os pastoreios,

as potreadas e os repontes.

Não vejo – nos horizontes,

o sol procurando ninho.

Fiquei no tempo – sozinho,

prisioneiro da paisagem,

e após  a última viagem

me transformei em caminho!

Vaqueano! Onde estás vaqueano?

Há um eco que me  interroga.

A evolução pôs a soga

o meu destino haragano,

morre o último pampeano.

Mas eu – vaqueano- não morro,

o meu pingo – o meu cachorro 

há muito foram proscritos

mas guardo n´alma infinitos

que tempo a dentro percorro!!!

ILUSÕES, 2010

November 23, 2010

NO SILÊNCIO DA NOITE, SONHO;

FACES,FATOS,CENAS, MOMENTOS.

UM LEMBRAR DISTANTE, PRESENTE,

AINDA,

ME CONDUZ, TRISTONHO.

RECRIO FELICIDADES E HISTÓRIAS,

NO INUSITADO DA IMAGINAÇÃO.

BUSCO EM CANTOS DE SAUDADES,

TRAZER AO COTIDIANO SOLITÁRIO

 DE AGORA

AS ALEGRIAS VIVIDAS A DOIS .

O QUE ERA, PERDEU-SE,

PARTIDO,

PEDAÇOS DE  CRISTAIS.

O QUE FOI, SÃO SENSAÇÕES,

NADA MAIS.

OS CAMINHOS AGORA PERCORRIDOS,

NÃO SERÃO OS MESMOS DE OUTRORA,

JAMAIS.

RESTA-ME REVIVER NO IMAGINÁRIO

AS FORTES E DOCES EMOÇÕES

DO PASSADO,

NUM CANTO QUALQUER,

NUMA DOBRA ESCONDIDA

DA MEMÓRIA.

REAL MARAVILHOSO 2010

November 12, 2010

Nossa vida flutuando em dois espaços,
um real – outro fantástico imaginário,
e nesse encontro do real maravilhoso
ficamos presos, partidos aos pedaços
estando em um, desejando o outro.
Vivemos então o momento majestoso,
onde tudo é possível na fantasia criada,
e no equilíbrio dessa realidade virtual,
encontramos a felicidade imaginada
para amenizar a solidão do ser
esmagado na realidade do viver
buscando no fantástico irreal
as ilusões passadas e perdidas.

ORFÃO DE MÃE PRETA ( Jayme C. Braun)

November 8, 2010

Patrão – é o negro Venâncio
que pede vossa licença,
pra vos dizê que a Vicença
morreu de parto, Patrão.
E ao ir pra baixo do chão
não tinha nada de seu.
Só deixou quando morreu,
este negrinho chorão,
neto da negra Donata
escrava de vosso avô.
A negra que amamentou
vocês tudo, Patrãozinho.
Por isso eu trouxe o negrinho
afim que você o ajeite,
pos mas do que roupa e leite
ele percisa carinho.
A Vicença – miseráve,
morreu sem le botá nome
e aqui está – roxo de fome
o pobre entinho bendito,
sem força nem pra dá um grito
e os óinho cheio d´água
refretindo a triste mágoa
de tê ficado solito.

Me alembrei que a Patroinha
há pouco ganhô famia.
Patrão – quem sabe ela cria.
como paga de um favor
esse entinho sofredô,
pialado da sorte ingrata,
pois é neto da Donata,
que foi vossa mãe de cô.
Não fique bravo – patrão,
nem tome por desaforo,
mas óie – que ouvindo o choro
dessee negrinho mijado
o indio mais calejado
trem vontade de sê bão
e chega pedir perdão
de tudo quanto é pecado.

Adescurpe – meu Patrão
eu sinto o que você sente
contemprando esse vivente
que as lágrirmas nos arranca
mas vai vê que o choro estanca.
E o negrinho da Vicença
nem vai achá diferença
entre mãe preta e mãe branca.

Já vô simbora Patrão nosso
Sinhô o abençoe
e ao mesmo tempo perdoe
àqueles que tudo tendo
passam a vida não vendo,
cegados pela luxúria
a miséria e a penúria
dos que já nascem sofrendo

Jayme Caetano Braun

November 8, 2010

Poeta gaúcho, lídimo representante das tradições campeiras riograndenses, merece ser mais conhecido pelas gentes estranhas à história, aos hábitos e ao linguajar dos pampas. É com imensa satisfação que transcrevo algumas de seus poemas.

Acampamento Farrapo

Bandeira de trinta e cinco,
divino pendão de guerra,
que guardas gritos de terra,
entre as dobras andarilhas.
Pano de altar das coxilhas,
desfraldado por condores.
Prece rezada em três cores,
em sobre-humanos rituais:
O VERDE – os campos gerais,
do RIO GRANDE despenteado;
o matambre AMARELADO,
uma alvorada de outubro,
e o campo VERMELHO rubro,
um sol de tarde sangrado.
Troféu mil vezes sagrado,
Pátria encarnada num pano,
pedaço de chão pampeano
que a história guasca eterniza,
foste a primeira divisa
do Brasil Republicano.

Bandeira tu ressuscitas,
na glória de cada fiapo
o acampamento Farrapo
embaçado de fumaça.
É o formigueiro da raça
que está reunido em concílio.
É o bugre que – do lombilho,
vem levantando aos bocejos;
são os mestiços andejos,
mal-encarados e sérios;
são castilhanos gaudérios,
vaqueanos de montoneras,
que bandearam as fronteiras
por força de algum instinto;
é o negro chucro, retinto,
dos grilhões recém-liberto;
é o piá voluntário, esperto,
guri ainda – rosto liso;
é o chiru velho preciso,
que pensa mais do que fala;
é o estancieiro de pala,
que chimarreia sisudo;
é o mulato façanhudo,
de adaga grande à cintura;
é a impressionante figura
do charrua de melenas;
é o soldado de chilenas
e o uniforme desbotado;
é o lenço bem colorado
num pecoço de Oriental;
é a Tricolor oficial
num tope republicano;
é o carreteiro vaqueano
que segue o rastro das tropas.
São abas largas e copas,
vinchas, quepes e chapéus,
laços, apêros, sovéus,
num mar de pílchas gaúchas,
boleadeiras e garruchas,
ponchos, palas multicores,
manejavam com primores
nas arrancadas sem conta.
Que culto estranho,
que pampeano rito,
vivem tais vultos que divergem tanto.
É a liberdade que fundiu num grito
todas as vozes do Rio Grande santo.