Viver para nada, 2011

No declínio da existência,

finalmente me reconheço

e essa descoberta me atinge,

com a força das palavras

duras, mas verdadeiras,

que saltaram do coração triste

e ferido de meu filho.

Em pânico e sem defesa

percorri os caminhos já vividos

e cai sem forças na certeza

da construção de um nada.

Restou-me a solidão da tristeza

com a constatação de fracassos;

fracassos como filho, como irmão,

fracassos, enfim, como pai e

companheiro ausente, esquecido

nos porões do passado.

Na rigidez dos princípios aprendidos

e, rigorosamente transmitidos,

não soube compartilhar emoções,

não soube compreender nem

permitir a compreensão de todos.

Fui somente o seguidor cego de valores,

como se fossem a expressão da verdade.

Mas a verdade, era apenas um nada,

que apenas representei insensível

durante toda a minha vida.

O tempo que ainda me resta,

não será por certo suficiente

para apagar todo o mal

e merecer um perdão.

Dói-me saber que o amor

ficou mesclado na dificuldade

de uma convivência plena.

Quando se descobre nas palavras

de um filho, muito querido,

a impossibilidade dessa convivência,

sofre-se o impacto violento da verdade,

como um tiro certeiro e mortal

disparado do fundo da alma.

Nada mais poderá se feito

para apagar o que  se fez.

Resta-me agora, tentar um recomeço

e a solidão com a dor do fracasso

de toda uma vida.

(03/10/2011, 3h da madrugada)

 

 

2 Responses to “Viver para nada, 2011”

  1. Tetê Motta Says:

    Não fracassaste como pai..

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