MURO DE VERGONHA / 1968

VOU CONSTRUIR
UM NOVO MURO,
ALTO, ALTO, TÃO ALTO
A TOCAR NAS BORDAS
DAS NUVENS BRANCAS
QUE CONTRASTAM
COM MEU MURO
PRETO.
MEU MURO,
EU JURO!
NÃO VAI SEPARAR
O BEM DO MAL
O OCIDENTE DO ORIENTAL.
NÃO EVITARÁ FUGAS,
NÃO CRIARÁ RUSGAS.
NINGUÉM MORRERÁ
PELO MEU MURO,
(EU JURO).
NÃO TERÁ LUZES,
NEM CRUZES
DOS MORTOS
NAS METRALHADORAS.
NÃO TERÁ DORES,
NEM CORES,
NEM GOSTO DO SAL,
(BANAL),
DAS LÁGRIMAS DERRAMADAS
DE FACES ENRRUGADAS,EM MIL LAMENTAÇÕES.
NÃO TERÁ SONS,
NEM TONS
QUE NÃO SEJA O PRETO.
NÃO SERÁ O MURO
DA VERGONHA,
MAS DE VERGONHA,
QUE TENHO DO MUNDO,
AO MEU REDOR.
VOU SEPARAR OS IGNORANTES,
OS TRATANTES,
OS RUFIÕES,
OS LADRÕES.
OS DESONESTOS
DOS HONESTOS,
OS PUROS
DOS IMPUROS.
A SARGETA
DA ÁGUA CRISTALINA.
TEREI CIDADES DE UM LADO,
DO OUTRO,
UM POBRE ESPAÇO,
DESOLADO.

Descartes

Tem o artista o direito de destruir seus próprios trabalhos? Pois é, não me considero um artista, por isso , ficaram perdidos, desenhos, pinturas,poemas, simplesmente destruídos por puro desgosto, de mim, da obra? Talvez dos dois.

Um ser cariúcho

Isto é uma “quase” repetição do que havia escrito e, por “falta de prática” ficou não sei onde, hahaha. Vamos lá.
Talvez por carência de criatividade, talvez por falta de imaginação, mas, quem sabe, por querer homenagear minha família, surgiu esse “ser ´cariúcho”. Carioca (roxo), torcedor do Flamengo (mais roxo ainda), nasci no seio de gente gaúcha “de quatro costados (barbaridade chê), daí – o “ser cariúcho” (metade carioca, metade gaúcho). Dito isso, está aí mais um Blog – o meu, né? meio sem graça, meio sem jeito, meio desalinhado com o todo da web, mas desejando ficar. Novos caminhos para troca de idéias, informações, textos, produções, seja lá o que for. Fica o convite – http://www.cariucho.wordpress.com -serão sempre bem-vindos. Assunto? quaisquer. Até

POEMA SEM NOME/1968

NUM DIA DE FEROZ
INTRANQUILIDADE
DESCI DOS CÉUS
À TERRA IMPURA
ENVOLTA EM VÉUS
DE MALDADE,
DE MIL DOENÇAS,
SEM CURA.
E, FUI ANJO,
FUI DEMÔNIO.
EXPECTADOR
DE LUTAS, DE MISÉRIAS,
DE FERIDAS ABERTAS,
SEM DOR.
AO FRIO DAS INCERTEZAS,
DE TODAS AS TRISTEZAS,
EM ANGÚSTIAS DE AIS,
INFERNAIS.
FUI ARCANJO
DO BEM
E DO MAL,
EM GIROS GIGANTES,
NOS GRITOS VIBRANTES,
DOS ELEFANTES
DA JANGAL
DE RUINAS MORAIS.
EM TRILHAS TORTUOSAS,
SINUOSAS,
A CONDUZIR-NOS AO FUNDO
DOS PANTANAIS DE LAMA,
FÉTIDA.
ONDE OS JAVALIS
E AS HIENAS
CHARFUNDAM,
EM RISOS ROUCOS
E BESTIAIS.
ONDE OS PÁSSAROS
NÃO CANTARÃO
JAMAIS!
POR QUE DESCI DOS CÉUS
À TERRA IMPURA?
LOUCURA!

Meu Trem/1967

PARTE MEU TREM
DA GARE ESCURA,
PELA MANHÃ QUE NÃO VEIO,
AINDA.
DO ESCURO DA NOITE,
QUE NÃO FINDA,
PARTE MEU TREM
ESCURO E SUJO.
TREM DE PERFUMES
EXTRAVAGANTES,
EM MISTURAS EXÓTICAS
DE ODORES;
MISS DIOR, NUM CERTO AZÊDO
DO SUOR
DE MIL AXILAS.
O CHEIRO DE PEIXE
QUE EXALA
DE CAIXOTES, EM JORNAL
(SEM IGUAL).
AH, MEU TREM QUE PARTE,
ESCURO E SUJO!
TREM DE LUXO
NO COTIDIANO,
COM PORTAS ABERTAS
(INCERTAS)
QUE SÃO BOCAS FAMINTAS
(DE GENTE).
DE JANELAS SEM VIDRO,
COM CHUVA, COM VENTO
NUM SÓ LAMENTO,
DO PÓ QUE LEVANTA
DO CHÃO,
JUNCADO DO LIXO
DE MUITAS MÃOS
E DAS BOCAS QUE COSPEM
A MISÉRIA DE UM POVO.
MEU TREM…
DO COTIDIANO,
DE PROFESSORAS AZUIS,
DE BÊBADOS CANSADOS,
DE SUADOS OPERÁRIOS,
DOS PEIXEIROS
QUE ESPALHAM NA MANHÃ
A PRESENÇA DOS MARES,
EM HORÁRIOS INCERTOS
(INVULGARES).
TREM DEMOCRÁTICO.
PRÁTICO!
A PROFESSORA AO LADO
DA LAVADEIRA,
NO MESMO TREM,
ESCURO
E SUJO,
COM CHEIRO DE PEIXE,
DE ROUPA LAVADA
(OU SUJA?)
COM O LIXO ESPALHADO
NO PERFUME FRANCÊS.
QUEM NOS FEZ
ASSIM TÃO IRMANADOS
NÓS….OS SUBDESENVOLVIDOS
DO SUL?
NUM MESMO TREM
ESCURO
E SUJO.
COM VENTO
COM CHUVA
COM FRIO,
MAS SEM CHEIRO
DO SANGUE
DA LUTA DE IRMÃOS.
O BRANCO NO PRETO
O PRETO NO BRANCO,
LIVRES
NUM MESMO TREM
ESCURO
E SUJO,
COM VENTO,
COM CHUVA,
COM FRIO,
MAS SEM O CHEIRO
DA PÓLVORA
DA GUERRA,
QUE ME ATERRA

ESSÊNCIA CÓSMICA/2000

SOU COMO O VENTO
FORTE, RUIDOSO,FURACÃO;
AS VEZES BRISA, CALMARIA.
SIGO À FRENTE MEU MOMENTO,
PASSAGEIRO E CONDUTOR.
NOITES ESCURAS, LINDOS DIAS.
PASSOS LARGOS, RISO FRANCO.
EXPLOSÃO EM CORES E DOR,
VERMELHOS, RUBROS, RAIVAS;
AZUIS, ARGENTOS, CARÍCIAS.
ASSOBIO NAS COPAS E NAS TAIPAS.
ASSOBRADO, ASSOBRADOR.
SIGO O RUMO DAS CORRENTES,
QUE ME LEVAM LONGE E PERTO.
SUBO E DESÇO POR VERTENTES,
SEM PARADAS, SEM DESCANSO;
ORA EM GRITOS,ORA MANSO,
MAS SEMPRE SOU EU, ESSÊNCIA,
DAQUILO QUE REPRESENTO,
EM VIDAS QUE FUI,
E EM VIDAS QUE SEREI.